Banco Central adota política mais recessiva por riscos fiscais

Em meio às perspectivas de uma sólida recuperação econômica no segundo
semestre do ano, os perigos fiscais e o contínuo agravamento dos elementos
inerciais dos índices de custos levaram o Banco Central a adotar uma política
monetária mais recessiva.

A avaliação encontra-se na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária
do Banco Central (Copom), publicada hoje.

Na reunião da semana passada, o Copom elevou a taxa de juros básica da
economia, a Selic, de 4,25% para 5,25% ao ano, e já sinalizou que fará um
ajuste semelhante em sua próxima reunião em setembro, mantendo o período de
subida da taxa de juros acima da nota neutra, “para que se obtenha projeções
em torno das metas de inflação no horizonte relevante”. 

As taxas de juros neutras são as taxas certas para
estimular a economia
sem produzir instabilidade na inflação ao longo do tempo. 

“O comitê ponderou que os riscos fiscais continuam implicando um viés de alta
nas projeções. Essa assimetria no balanço de riscos afeta o grau apropriado de
estímulo monetário, justificando assim uma trajetória para a política
monetária mais contracionista [de conter o avanço da inflação] do que a
utilizada no cenário básico”, diz a ata.

A fim de decidir sobre o aumento da taxa Selic, a diretoria estabeleceu um
cenário básico de inflação, com projeções de cerca de 6,5% em 2021, 3,5% em
2022 e 3,2% em 2023. Este cenário implica uma trajetória de taxas de juros que
aumenta para 7% ao ano em 2021 e 2022 e diminui para 6,5% ao ano em
2023. 

Neste cenário, as projeções de inflação de custos administrados são de 10%
para 2021 e 4,6% para 2022 e 2023. A Copom também adotou uma hipótese neutra
para as tarifas de eletricidade, que permanecem no grau vermelho 1 no último
mês do ano a cada ano.

A Selic é o principal instrumento utilizado pelo Banco Central para atingir a
meta de inflação. O crescimento da taxa Selic, que serve como referência para
as outras taxas de juros no território, ajuda a manter a inflação sob
controle, pois a taxa se reflete nos custos, pois taxas de juros mais altas
encarecem o crédito e estimulam a economia, contendo a demanda aquecida.

O setor também sofre com a alta na inflação, o Índice Nacional da Construção
Civil (Sinapi) registrou uma inflação de 1,89% em julho deste ano. O índice
mostrou uma queda em relação ao índice de junho (2,46%), mas teve alta em
comparação com julho de 2020 (0,49%). 

Os
materiais de construção
aumentaram 2,88% no mês e o custo por metro quadrado chegou a R$ 853,03.
Enquanto, o custo da mão de obra teve aumento de 0,52% e agora o custo por
metro quadrado chegou a R$ 595,75.

Com isso, se faz necessário um bom planejamento na hora de avaliar as
oportunidades do setor, utilizando ferramentas para diminuir erros na
estimativa de matérias primas como a calculadora de concreto.

Riscos

Para o banco central, o cenário básico de inflação contém componentes de risco
em ambas direções. “Por um lado, uma possível reversão, ainda que parcial, do
aumento recente nos preços das commodities internacionais em moeda local
produziria trajetória de inflação abaixo do cenário básico. Por outro lado,
novos prolongamentos das políticas fiscais de resposta à pandemia de covid-19
que pressionem a demanda agregada e piorem a trajetória fiscal podem elevar os
prêmios de risco do país”, avaliou o Copom.

“Apesar da melhora recente nos indicadores de sustentabilidade da dívida
pública, o risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no
balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado
no horizonte relevante para a política monetária”, completa a ata.

De acordo com o documento, a inflação ao consumidor segue forte e os dados
mais recentes mostram que a estrutura de preços não é favorável, tais como a
“surpresa com o componente subjacente da inflação de serviços [em meio à
reabertura do setor] e a continuidade da pressão sobre bens industriais,
causando elevação dos núcleos”.

Ainda de acordo com a ata, “Além disso, há novas pressões em componentes
voláteis, como a possível elevação do adicional da bandeira tarifária e os
novos aumentos nos preços de alimentos, ambos decorrentes de condições
climáticas adversas. Em conjunto, esses fatores acarretam revisão
significativa das projeções de curto prazo”.

Nesse sentido, o Copom considera que, neste momento, a estratégia de ser “mais
tempestivo” no ajuste da política monetária é a mais apropriada para assegurar
a convergência da inflação para as metas de 2022 e 2023. “Sem prejuízo de seu
objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão
também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e
fomento do pleno emprego”, diz.

Com isso em mente, Copom acredita que a atual estratégia de ajuste da política
monetária mais “oportuna” é a mais adequada para aproximar a inflação das
metas de 2022 e 2023. “Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a
estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações
do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, diz.

Recuperação da economia

De acordo com o documento, os últimos dados sobre a
evolução da atividade econômica
no país continuam a evoluir positivamente. Para a Copom, o segundo semestre do
ano deve mostrar uma sólida recuperação da atividade, pois os efeitos das
vacinas são sentidos de forma mais ampla.

Por outro lado, embora a ociosidade da atividade como um todo evolua
rapidamente para retornar ao nível do fim de 2019, “o comitê considera que a
pandemia ainda segue produzindo efeitos heterogêneos sobre os setores
econômicos e, em particular, sobre o mercado de trabalho, com consequências
para a dinâmica recente e prospectiva da inflação”.

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