Como as recentes mudanças climáticas afetam o Agronegócio?

Emissões veiculares, industriais, queimadas e desmatamento têm causado
mudanças climáticas, que atingem o volume de colheitas e a economia do País,
saiba mais a segui.

As atividades de agropecuária estão presentes no crescimento do Brasil desde
os tempos coloniais, e tiveram início com a produção de cana-de-açúcar,
passando pelo café e, por fim, a comercialização de carnes com a criação de
gado e aves.

De modo geral, a agropecuária representa cerca de 8% do PIB (Produto Interno
Bruto) brasileiro, gerando empregos para pelo menos 10% da população
economicamente ativa.

A produção agro tem a finalidade de destinar produtos – grãos, frutas,
legumes, carnes etc. – e matérias-primas para abastecer o mercado interno e
externo.

Com isso, tem um papel fundamental não apenas no
aquecimento econômico
nacional e internacional, mas também ao colocar alimento na mesa de milhões de
pessoas.

Impactos climáticos no setor

No entanto, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística),, a agropecuária caiu 8% no terceiro trimestre de 2021, marcando
a pior queda do setor desde o 1º trimestre de 2012.

Os resultados do PIB de outubro a dezembro deste ano registram estabilidade na
indústria e crescimento nos serviços (+1,1%) e consumo das famílias (+0,9%). A
queda do agro atingiu as exportações (-9,85%), já que os grãos são os
principais produtos exportados pelo Brasil. 

Em comparação com o terceiro trimestre de 2020, o setor agropecuário caiu em
9% devido ao desempenho de alguns produtos de lavoura que têm safra relevante
no período. A contração na estimativa de produção anual e perda de
produtividade também pesaram.

Dentre os itens afetados, estes se destacam:

  • Cana-de-açúcar (-7,6%);
  • Laranja (-13,85);
  • Milho (-16%);
  • Algodão (-17,5%);
  • Café (-22,4%).

Apesar da pandemia, o setor teve crescimento no ano passado. Em 2021, a queda
foi ocasionada pela seca e problemas hídricos que atingiram profundamente o
desempenho das plantações.

A colheita de soja já foi finalizada e a produção de café, além de estar em
ano de bienalidade negativa – fenômeno em que uma safra tem produtividade alta
enquanto, na próxima, por necessidade de recomposição do vegetal, a produção
fica menor –, também foi castigada pela seca e pela geada.

Um estudo feito pelo Banco Mundial mostra que, até 2050, o aumento médio das
temperaturas será de 2°C, o que daria mais espaço para a redução do potencial
de irrigação, aumento da aridez do solo e maior incidência de pragas.

A falta de chuva dos últimos meses prejudicou drasticamente várias lavouras
nas principais regiões agrícolas do país, como São Paulo, Minas Gerais, Mato
Grosso do Sul e Paraná.

O resultado disso é um grande efeito cascata: por causa das produções mais
fracas, o preço de diversos alimentos, da eletricidade e do etanol cresceram
de maneira muito significativa.

O frango, que se alimenta principalmente de milho, ficou 30% mais caro nos
supermercados. O mesmo número vale para a conta de luz. O etanol, feito com a
cana-de-açúcar, que padeceu com a seca e as geadas de São Paulo, disparou em
67%.

De acordo com especialistas, esse cenário pode ficar ainda mais grave.
Mudanças climáticas muito rigorosas podem inviabilizar os moldes atuais dos
setores de agricultura e pecuária.

Uma pesquisa realizada pela engenheira ambiental Rafaela Flach, da
Universidade Tufts de Massachusetts, nos Estados Unidos, apontou que a
indústria da soja, por conta do calor excessivo, pode perder até 3,5 bilhões
de dólares por ano. 

O trabalho indica queda de 5% na produtividade do grão para cada dia que
marcar mais de 30ºC.

As secas mais frequentes, as queimadas em grandes áreas de florestas –
principalmente na Amazônia –, chuvas escassas, a emissão de CO2, entre outros
fatores, são elementos que acabam empobrecendo as safras.

Com isso, a falta de matéria-prima, alimento e emprego, de várias maneiras
distintas, desencadeiam a deterioração da qualidade de vida de milhões de
pessoas dentro e até mesmo fora do Brasil.

Possíveis soluções

Dentre a gama de possíveis soluções para resolver – ou, pelo menos, minimizar
– o problema, pesquisadores de diversas entidades nacionais apontam o
incentivo ao plantio direto, adoção de sistemas agroflorestais e
agrosilvipastoris, arborização dos cafezais, melhoramento genético e controle
do desmatamento.

Para o engenheiro florestal Argemiro Teixeira Leite Filho, da Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), o Brasil segue uma linha que designa a
destruição florestal como chave para o desenvolvimento.

Ele também vê uma espécie de repreensão indireta do IPCC (Intergovernmental
Panel on Climate Change ou Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima)
ao Brasil quando a organização alegou que o desmatamento impacta o volume de
chuvas e, consequentemente, o agronegócio.

As florestas são devastadas para extração de madeira e outras matérias-primas,
para abrigar projetos de colonização de terras e até mesmo para atender a
práticas agrícolas.

Além da chamada Amazônia Legal, existem terras, principalmente no sul do
estado do Amazonas, que não têm dono ou governo e que vêm sofrendo com a
intensificação do desmatamento nos últimos anos. 

A recomendação de especialistas é que leis ambientais mais rígidas sejam
aplicadas. O aumento de fiscalização e disponibilização de verba para
pesquisas e operações nas regiões afetadas também são soluções efetivas.

Apesar de projetos de lei do governo vigente que autorizam a mineração de
terras indígenas (PL 191/20) e que regularizam invasões ilegais de terras que
aconteceram até 2011 (PL 510/21), o Brasil se comprometeu, na COP26, a zerar o
desmatamento até 2030.

A conferência sobre mudanças climáticas da ONU (Organização das Nações
Unidas), que aconteceu de 31 de outubro a 12 de novembro em Glasgow, na
Escócia, discutiu uma série de medidas que diversos países devem cumprir para
melhorar os efeitos ambientais.

Dentre elas, está a situação do agronegócio no Brasil. 

Desde então, o Itamaraty vem agindo para convencer o governo federal de que o
impulsionamento das ações ambientais, práticas e estudos de
agronomia, além das questões de produção, são necessárias para possibilitar parcerias
internacionais, como acontece com o Mercosul e a União Europeia.

Assim, a previsão é de que o agro tenha mais estabilidade em relação à
manufatura e, como resultado direto, à economia.

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